Como está a Educação Financeira dos Jovens Brasileiros?

 

Uma análise a partir do PISA

Promover a educação financeira da população é um objetivo comum de muitos países, por diversas razões: crescente oferta de produtos e serviços financeiros, maior longevidade da população, novas tecnologias financeiras, etc. A recente pandemia apenas reforçou essa necessidade, especialmente para os mais jovens, que irão enfrentar uma realidade financeira bem diferente da de seus pais.

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) recomenda que a educação financeira comece o mais cedo possível, na escola, contribuindo para formar uma sociedade com bem-estar financeiro de maior qualidade. Entender conceitos financeiros, conhecer características, riscos e oportunidades de produtos e serviços financeiros, saber gerir as finanças pessoais, entre outras competências, integram um conjunto básico de capacidades necessárias a todo cidadão.

Nesse particular, um instrumento que nos dá um quadro confiável e detalhado do letramento financeiro da população jovem é o PISA (Programme for International Student Assessment). O PISA é uma pesquisa trienal que avalia as habilidades de estudantes de diversos países para a participação na vida econômica e social. Fornece dados sobre as habilidades dos estudantes em leitura, matemática e ciências, e também em áreas inovadoras, como resolução de problemas, competências globais e pensamento criativo.

Na Conferência de Estudos Comportamentais e Educação do Investidor de 2020, a keynote speaker Chiara Monticone apresentou os dados de educação financeira do PISA publicados em 2018, com ênfase nos resultados do Brasil. Chiara é analista sênior de políticas na unidade de Educação Financeira e Proteção ao Consumidor da OCDE, onde coordena o trabalho da Rede Internacional de Educação Financeira.

Esta publicação foi escrita com base nos dados apresentados por Chiara, ilustrando o panorama da educação financeira dos jovens brasileiros. O PISA pode ser acessado na íntegra aqui.

A OCDE define a Educação Financeira como: “o conhecimento e o entendimento de conceitos financeiros e riscos, e as habilidades, motivação e confiança para aplicar esse conhecimento”.

Os conteúdos avaliados pelo PISA foram:

 

  • Dinheiro e transações financeiras
  • Planejamento e manejo das finanças
  • Risco e recompensa
  • Aplicação e entendimento de conceitos

117 mil estudantes participaram do Pisa, representando 13,5 milhões de jovens de 15 anos dos países abaixo:

 

Dos 20 países avaliados, o Brasil foi o 17º colocado na pontuação geral. Ainda assim, a performance dos jovens brasileiros aumentou em 27 pontos entre o PISA de 2015 e 2018.

 

MOTIVAÇÃO E INTERESSE EM ASSUNTOS FINANCEIROS

A quantidade de estudantes que concorda ou concorda fortemente com as frases abaixo foi:

 

A porcentagem dos estudantes brasileiros que se sente confiante ou muito confiante em realizar as operações abaixo foi de:

 

 

GÊNERO

Na maioria dos países, observa-se uma diferença significativa na performance entre meninos e meninas. Não é o caso do Brasil: a diferença na performance de meninos e meninas não é significativa. No entanto, há diferença em outros campos. Há uma diferença na probabilidade de meninos terem feito compras online em comparação com as meninas (58,5% dos meninos reportam já terem feito compras online, contra 44,8% das meninas) e realização de pagamentos por meio de celular (39,9% dos meninos já fizeram, contra 27,9% das meninas). Também há diferenças no quanto gostam de falar de dinheiro e quanto acham dinheiro relevante para si mesmos no momento, com meninos pontuando mais nos dois tópicos.

 

CLASSE SOCIAL

Em todos os países, estudantes de classes econômicas mais altas têm uma performance melhor que os de classes mais baixas. No Brasil, essa diferença é de 98 pontos. É o quinto país com maior disparidade entre as classes dos estudantes. Também há uma disparidade entre jovens mais ricos e mais pobres na confiança, motivação e interesse em assuntos financeiros, com estudantes mais ricos pontuando mais.

 

ONDE OS JOVENS APRENDEM SOBRE DINHEIRO?

Acompanhando a tendência de outros países, a principal fonte de informações dos jovens brasileiros sobre dinheiro é a família: 89,8% aprendem sobre finanças no ambiente doméstico. As outras fontes foram, em ordem decrescente: internet (80,6%), televisão ou rádio (61,2%), professores (46,2%), amigos (43%) e revistas (32,1%).

 

CONCLUSÕES

O PISA fornece indicadores que permitem avaliar o panorama da educação financeira, como o desempenho geral em educação financeira e uma baixa exposição dos estudantes a finanças nas escolas. Há diferenças na exposição de meninos e meninas a decisões financeiras, e se observam disparidades significativas no conhecimento financeiro de estudantes de classes mais altas e mais baixas. Por outro lado, vemos que a motivação dos estudantes brasileiros em aprender sobre finanças não está abaixo do cenário global. Temos espaço, portanto, para investir na educação financeira dos jovens, encontrando pessoas interessadas no tema e dispostas a aprender.

Um desafio apontado pela pesquisa é que ainda não é com o professor que a maioria dos alunos acessa informações sobre finanças/educação financeira, o que mostra uma oportunidade importante de ampliar os programas de educação financeira nas escolas brasileiras. O Brasil é o 13º colocado na lista que avalia o quanto os alunos são expostos a conceitos financeiros nas escolas.

E você, leitor? Como acha que podemos mudar essa realidade?

Há diversos materiais e fontes de referência e, em março deste ano (de 22 a 28/03), a OCDE organiza a Global Money Week, semana mundial de educação financeira para crianças e jovens. A CVM coordena a GMW no Brasil, participe! Saiba mais no link: https://www.investidor.gov.br/menu/Menu_Academico/GMW/globalmoneyweek.html.

Materiais públicos (gratuitos) de educação financeira nas escolas*: https://www.vidaedinheiro.gov.br/livros-ensino-fundamental/ e https://www.vidaedinheiro.gov.br/livros-ensino-medio/

Centro CVM/OCDE de Educação e Letramento Financeiro para América Latina e Caribe: https://www.oecd.org/finance/oecd-cvm-financial-education.htm

* Há outros materiais de diversas instituições